Este pensador francês esteve na Fundação Gulbenkian na conferência “O ambiente na encruzilhada – por um futuro sustentável”.
Numa sociedade em que tudo está hiperbolizado, se é certo que cada vez temos mais poder sobre “as coisas”, é inegável — embora digamos que não — que continua a escapar-nos o poder sobre a alegria de viver. E isto não é pessimismo, diz Gilles Lipovetsky.
Este consumo como forma de combater a fossilização do quotidiano, diz Lipovetsky, obcecou-nos e vamos pagar, com o corpo.
O filósofo, um dos pais do conceito do hiper-consumo, afirma que hoje tudo está acessível a todos: já não há barreiras de classe e em última instância o crédito possibilitará comprar o que desejarmos. Não é por acaso a forte expansão dos mercados de luxo, diz Lipovetsky, que nota igualmente a evolução dos mercados “low cost”, o baixo custo, o poupar aqui para gastar ali.
Este consumo exacerbado mudou a nossa forma de viver e chegou à tradição e à religião.
“Olhem para o Natal, o que é o Natal hoje? É uma festa consumista, mesmo hiper-consumista, uma verdadeira orgia de consumo, as crianças imersas em brinquedos. O consumismo transformou a essência da festa e o hiper-consumo é a comercialização quase integral do modo de vida, é a mercantilização do desejo e da satisfação”, disse.
Gilles Lipovetsky pergunta, então, o que diz tudo isto da felicidade dos indivíduos. Vivemos cada vez mais tempo e com aparente maior qualidade de vida, a Democracia vingou, há liberdade sexual, tudo isso. Mas somos felizes?
“Oito ou nove em cada 10 europeus dizem que são felizes ou muito felizes. Ao mesmo tempo, é estranho, porque vivemos em ansiedade, as depressões cresceram sete vezes em trinta anos, o consumo de ansiolíticos não pára de aumentar, as tentativas e os suicídios crescem, por causa das novas exigências de performance que diminuem a auto-estima”, refere.
Para Lipovetsky, autor de “A Era do Vazio”, professor de Filosofia na Universidade de Grenoble, a Ciência e Democracia têm o poder de aumentar a qualidade de vida objectiva, mas não fazem nada pela qualidade interior. A felicidade não cresce a partir de um determinado patamar de riqueza. Então, como alterar este estado de coisas? Criando um novo paradigma de interesses.
“Esta é talvez a outra missão da escola. O que é que pode conduzir os homens a não procurar a felicidade exclusivamente nas marcas? Eu acredito que são outros centros de interesse como o trabalho, a criação, a intervenção cívica, a arte. Precisamos de políticas ecológicas para preservar o ambiente, mas precisamos também do que chamo de uma ecologia do espírito, da existência. Sem outros pólos de interesse a bulimia do consumo não vai parar”.
Ainda pela Gulbenkian passou um especialista em alterações climáticas. David King não acredita em grandes resultados na cimeira da ONU que terá lugar em Copenhaga, na Dinamarca.
Fonte: Renascença
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